domingo, 4 de outubro de 2009

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA


CONCEITO DE ANATOMIA
No seu conceito mais amplo, a Anatomia é a ciência que estuda, macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados.
Um excelente e amplo conceito de Anatomia foi proposto em 1981 pela American Association of Anatomists: anatomia é a análise da estrutura biológica, sua correlação com a função e com as modulações de estrutura em resposta a fatores temporais, genéticos e ambientais. Tem como metas principais a compreensão dos princípios arquitetônicos da construção dos organismos vivos, a descoberta da base estrutural do funcionamento das várias partes e a compreensão dos mecanismos formativos envolvidos no desenvolvimento destas. A amplitude da anatomia compreende, em termos temporais, desde o estudo das mudanças a longo prazo da estrutura, no curso de evolução, passando pelas das mudanças de duração intermediária em desenvolvimento, crescimento e envelhecimento; até as mudanças de curto prazo, associadas com fases diferentes de atividade funcional normal. Em termos do tamanho da estrutura estudada vai desde todo um sistema biológico, passando por organismos inteiros e/ou seus órgãos até as organelas celulares e macromoléculas.
A palavra Anatomia é derivada do grego anatome (ana = através de; tome = corte). Dissecação deriva do latim (dis = separar; secare = cortar) e é equivalente etimologicamente a anatomia. Contudo, atualmente, Anatomia é a ciência, enquanto dissecar é um dos métodos desta ciência.
Seu estudo tem uma longa e interessante história, desde os primórdios da civilização humana. Inicialmente limitada ao observável a olho nu e pela manipulação dos corpos, expandiu-se, ao longo do tempo, graças a aquisição de tecnologias inovadoras.
Atualmente, a Anatomia pode ser subdividida em três grandes grupos: Anatomia macroscópica, Anatomia microscópica e Anatomia do desenvolvimento.
A Anatomia Macroscópica é o estudo das estruturas observáveis a olho nu, utilizando ou não recursos tecnológicos os mais variáveis possíveis, enquanto a Anatomia Microscópica é aquela relacionada com as estruturas corporais invisíveis a olho nu e requer o uso de instrumental para ampliação, como lupas, microscópios ópticos e eletrônicos. Este grupo é dividido em Citologia (estudo da célula) e Histologia (estudo dos tecidos e de como estes se organizam para a formação de órgãos).
A Anatomia do desenvolvimento estuda o desenvolvimento do indivíduo a partir do ovo fertilizado até a forma adulta. Ela engloba a Embriologia que é o estudo do desenvolvimento até o nascimento.
Embora não sejam estanques, a complexidade destes grupos torna necessária a existência de estudos específicos.
NORMAL E VARIAÇÃO ANATÔMICA
Normal, para o anatomista, é o estatisticamente mais comum, ou seja, o que é encontrado na maioria dos casos. Variação anatômica é qualquer fuga do padrão sem prejuízo da função. Assim, a artéria braquial mais comumente divide-se na fossa cubital. Este é o padrão. Entretanto, em alguns indivíduos esta divisão ocorre ao nível da axila. Como não existe perda funcional esta é uma variação.
Quando ocorre prejuízo funcional trata-se de uma anomalia e não de uma variação. Se a anomalia for tão acentuada que deforme profundamente a construção do corpo, sendo, em geral, incompatível com a vida, é uma monstruosidade.
NOMENCLATURA ANATÔMICA
Como toda ciência, a Anatomia tem sua linguagem própria. Ao conjunto de termos empregados para designar e descrever o organismo ou suas partes dá-se o nome de Nomenclatura Anatômica. Com o extraordinário acúmulo de conhecimentos no final do século passado, graças aos trabalhos de importantes “escolas anatômicas” (sobretudo na Itália, França, Inglaterra e Alemanha), as mesmas estruturas do corpo humano recebiam denominações diferentes nestes centros de estudos e pesquisas. Em razão desta falta de metodologia e de inevitáveis arbitrariedades, mais de 20 000 termos anatômicos chegaram a ser consignados (hoje reduzidos a poucos mais de 5 000). A primeira tentativa de uniformizar e criar uma nomenclatura anatômica internacional ocorreu em 1895. Em sucessivos congressos de Anatomia em 1933, 1936 e 1950 foram feitas revisões e finalmente em 1955, em Paris, foi aprovada oficialmente a Nomenclatura Anatômica, conhecida sob a sigla de P.N.A. (Paris Nomina Anatomica). Revisões subseqüentes foram feitas em 1960, 1965 e 1970, visto que a nomenclatura anatômica tem caráter dinâmico, podendo ser sempre criticada e modificada, desde que haja razões suficientes para as modificações e que estas sejam aprovadas em Congressos Internacionais de Anatomia . A língua oficialmente adotada é o latim (por ser “língua morta”), porém cada país pode traduzi-la para seu próprio vernáculo. Ao designar uma estrutura do organismo, a nomenclatura procura utilizar termos que não sejam apenas sinais para a memória, mas tragam também alguma informação ou descrição sobre a referida estrutura. Dentro deste princípio, foram abolidos os epônimos (nome de pessoas para designar coisas) e os termos indicam: a forma (músculo trapézio); a sua posição ou situação (nervo mediano); o seu trajeto (artéria circunflexa da escápula); as suas conexões ou inter-relações (ligamento sacroilíaco); a sua relação com o esqueleto (artéria radial); sua função (m. levantador da escápula); critério misto (m. flexor superficial dos dedos – função e situação). Entretanto, há nomes impróprios ou não muito lógicos que foram conservados, porque estão consagrados pelo uso.
POSIÇÃO ANATÔMICA
Para evitar o uso de termos diferentes nas descrições anatômicas, considerando-se que a posição pode ser variável, optou-se por uma posição padrão, denominada posição de descrição anatômica (posição anatômica). Deste modo, os anatomistas, quando escrevem seus textos, referem-se ao objeto de descrição considerando o indivíduo como se estivesse sempre na posição padronizada.
Nela o indivíduo está em posição ereta (em pé, posição ortostática ou bípede), com a face voltada para a frente, o olhar dirigido para o horizonte, membros superiores estendidos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas para frente, membros inferiores unidos, com as pontas dos pés dirigidas para frente.
DIVISÃO DO CORPO HUMANO
O corpo humano divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça corresponde à extremidade superior do corpo estando unida ao tronco por uma porção estreitada, o pescoço. O tronco compreende o tórax e o abdome com as respectivas cavidades torácica e abdominal; a cavidade abdominal prolonga-se inferiormente na cavidade pélvica. Dos membros, dois são superiores ou torácicos e dois inferiores ou pélvicos. Cada membro apresenta uma raiz, pela qual está ligada ao tronco, e uma parte livre.
PLANOS DE DELIMITAÇÃO E SECÇÃO DO CORPO HUMANO
Na posição anatômica o corpo humano pode ser delimitado por planos tangentes à sua superfície, os quais, com suas intersecções, determinam a formação de um sólido geométrico, um paralelepípedo.
Tem-se assim, para as faces desse sólido, os seguintes planos correspondentes: dois planos verticais, um tangente ao ventre – plano ventral ou anterior – e outro ao dorso – plano dorsal ou posterior. Estes e outros a eles paralelos são também designados como planos frontais, por serem paralelos à “fronte”; dois planos verticais tangentes aos lados do corpo – planos laterais direito e esquerdo e, finalmente, dois planos horizontais, um tangente à cabeça – plano cranial ou superior – e outro à planta dos pés – plano podálico – (de podos = pé) ou inferior.
O tronco isolado é limitado, inferiormente, pelo plano horizontal que tangencia o vértice do cóccix, ou seja, o osso que no homem é o vestígio da cauda de outros animais. Por esta razão, este plano é denominado caudal.
Os planos descritos são de delimitação. É possível traçar também planos de secção: o plano que divide o corpo humano em metades direita e esquerda é denominado mediano. Toda secção do corpo feita por planos paralelos ao mediano é uma secção sagital (corte sagital) e os planos de secção são também chamados sagitais; os planos de secção que são paralelos aos planos ventral e dorsal são ditos frontais e a secção é também denominada frontal (corte frontal); os planos de secção que são paralelos aos planos cranial, podálico e caudal são horizontais. A secção é denominada transversal.
TERMOS DE POSIÇÃO E DIREÇÃO
A situação e a posição das estruturas anatômicas são indicadas em função dos planos de delimitação e secção.
Assim, duas estruturas dispostas em um plano frontal serão chamadas de medial e lateral conforme estejam, respectivamente, mais próxima ou mais distante do plano mediano do corpo.
Duas estruturas localizadas em um plano sagital serão chamadas de anterior (ou ventral) e posterior (ou dorsal) conforme estejam, respectivamente, mais próxima ou mais distante do plano anterior.
Para estruturas dispostas longitudinalmente, os termos são superior (ou cranial) para a mais próxima ao plano cranial e inferior (ou caudal) para a mais distante deste plano.
Para estruturas dispostas longitudinalmente nos membros emprega-se, comumente, os termos proximal e distal referindo-se às estruturas respectivamente mais próxima e mais distante da raiz do membro. Para o tubo digestivo emprega-se os termos oral e aboral, referindo-se às estruturas respectivamente mais próxima e mais distante da boca.
Uma terceira estrutura situada entre uma lateral e outra medial é chamada de intermédia. Nos outros casos (terceira estrutura situada entre uma anterior e outra posterior, ou entre uma superior e outra inferior, ou entre uma proximal e outra distal ou ainda uma oral e outra aboral) é denominada de média.
Estruturas situadas ao longo do plano mediano são denominadas de medianas, sendo este um conceito absoluto, ou seja, uma estrutura mediana será sempre mediana, enquanto os outros termos de posição e direção são relativos, pois baseiam-se na comparação da posição de uma estrutura em relação a posição de outra
SISTEMA ESQUELÉTICO
O Sistema esquelético (ou esqueleto) humano consiste em um conjunto de ossos, cartilagens e ligamentos que se interligam para formar o arcabouço do corpo e desempenhar várias funções, tais como: proteção (para órgãos como o coração, pulmões e sistema nervoso central); sustentação e conformação do corpo; local de armazenamento de cálcio e fósforo (durante a gravidez a calcificação fetal se faz, em grande parte, pela reabsorção destes elementos armazenados no organismo materno); sistema de alavancas que movimentadas pelos músculos permitem os deslocamentos do corpo, no todo ou em parte e, finalmente, local de produção de várias células do sangue.
O sistema esquelético pode ser dividido em duas grandes porções: uma mediana, formando o eixo do corpo, composta pelos ossos da cabeça, pescoço e tronco, o esqueleto axial; outra, apensa a esta, forma os membros e constitui o esqueleto apendicular. A união entre estas duas porções se faz por meio de cinturas: escapular (ou torácica), constituída pela escápula e clavícula e pélvica constituída pelos ossos do quadril.
No adulto existem 206 ossos, distribuídos conforme mostra a tabela 2. Este número varia de acordo com a idade (do nascimento a senilidade há uma redução do número de ossos), fatores individuais e critérios de contagem.
CLASSIFICAÇÃO DOS OSSOS
Há várias maneiras de classificar os ossos. Uma delas é classificá-los por sua posição topográfica, reconhecendo-se ossos axiais (que pertencem ao esqueleto axial) e apendiculares (que fazem parte do esqueleto apendicular). Entretanto, a classificação mais difundida é aquela que leva em consideração a forma dos ossos, classificando-os segundo a relação entre suas dimensões lineares (comprimento, largura ou espessura), em ossos longos, curtos, laminares e irregulares.
• osso longo: seu comprimento é consideravelmente maior que a largura e a espessura. Consiste em um corpo ou diáfise e duas extremidades ou epífises. A diáfise apresenta, em seu interior, uma cavidade, o canal medular, que aloja a medula óssea. Exemplos típicos são os ossos do esqueleto apendicular: fêmur, úmero, rádio, ulna, tíbia, fíbula, falanges.
• osso laminar: seu comprimento e sua largura são equivalentes, predominando sobre a espessura. Ossos do crânio, como o parietal, frontal, occipital e outros como a escápula e o osso do quadril, são exemplos bem demonstrativos. São também chamados (impropriamente) de ossos planos.
• osso curto: apresenta equivalência das três dimensões. Os ossos do carpo e do tarso são excelentes exemplos.
• osso irregular: apresenta uma morfologia complexa não encontrando correspondência em formas geométricas conhecidas. As vértebras e osso temporal são exemplos marcantes
Estas quatro categorias são as categorias principais de se classificar um osso quanto à sua forma. Elas, contudo, podem ser complementadas por duas outras:
• osso pneumático: apresenta uma ou mais cavidades, de volume variável, revestidas de mucosa e contendo ar. Estas cavidades recebem o nome de sinus ou seio. Os ossos pneumáticos estão situados no crânio: frontal, maxilar, temporal, etmóide e esfenóide
• osso sesamóide que se desenvolve na substância de certos tendões ou da cápsula fibrosa que envolve certas articulações. os primeiros são chamados intratendíneos e os segundos periarticulares. A patela é um exemplo típico de osso sesamóide intratendíneo.
Assim, estas duas categorias adjetivam as quatro principais: o osso frontal, por exemplo, é um osso laminar, mas também pneumático; o maxilar é irregular, mas também pneumático, a patela é um osso curto, mas é, também um sesamóide (por sinal, o maior sesamóide do corpo).
ESTRUTURA DOS OSSOS
O estudo microscópico do tecido ósseo distingue a substância óssea compacta e a esponjosa. Embora os elementos constituintes sejam os mesmos nos dois tipos de substância óssea, eles dispõem-se diferentemente conforme o tipo considerado e seu aspecto macroscópico também difere. Na substância óssea compacta, as lamínulas de tecido ósseo encontram-se fortemente unidas umas às outras pelas suas faces, sem que haja espaço livre interposto. Por esta razão, este tipo é mais denso e rijo. Na substância óssea esponjosa as lamínulas ósseas, mais irregulares em forma e tamanho, se arranjam de forma a deixar entre si espaços ou lacunas que se comunicam umas com as outras e que, a semelhança do canal medular, contém medula Nos ossos longos a diáfise é composta por osso compacto externamente ao canal medular, enquanto as epífises são compostas por osso esponjoso envolto por uma fina camada de osso compacto.
Nos ossos planos, a substância esponjosa situa-se entre duas camadas de substância compacta. Nos ossos da abóbada craniana, a substância esponjosa é chamada de díploe.
Os ossos curtos são formados por osso esponjoso revestido por osso compacto, como nas epífises dos ossos longos.
PERIÓSTEO
No vivente e no cadáver o osso se encontra sempre revestido por delicada membrana conjuntiva, com exceção das superfícies articulares. Esta membrana é denominada periósteo e apresenta dois folhetos: um superficial e outro profundo, este em contato direto com a superfície óssea. A camada profunda é chamada osteogênica pelo fato de suas células se transformarem em células ósseas, que são incorporadas à superfície do osso, promovendo assim o seu espessamento.
Os ossos são altamente vascularizados. As artérias do periósteo penetram no osso, irrigando-o e distribuindo-se na medula óssea. Por esta razão, desprovido do seu periósteo o osso deixa de ser nutrido e morre.
CARTILAGEM
A cartilagem é uma forma de tecido de suporte firme e resistente, mas não tanto como o osso. Não tem vasos sangüíneos nem linfáticos e não recebe nervos. Três tipos são conhecidos - cartilagem hialina, fibrocartilagem e cartilagem elástica.
• a cartilagem hialina tem uma aparência translúcida, branco-azulada. É o tipo de mais larga distribuição e aparece no modelo cartilagíneo dos ossos em desenvolvimento. Ela persiste, na vida adulta, como cartilagem articular, nas extremidades dos ossos; como cartilagens costais, da traquéia, do nariz, septo nasal dos brônquios e como as maiores cartilagens da laringe. Os representantes não-articulares da cartilagem hialina têm tendência a se ossificar mais tarde na vida.
• a fibrocartilagem consiste em coleções densas de fibras colágenas nas quais está misturada uma matriz cartilagínea. Ela é menos homogênea que a cartilagem hialina, porém é mais resistente e mais flexível. Ocorre nos discos intervertebrais e articulares e nas orlas glenoidais de certas articulações. Está presente na sínfise púbica e cobre tendões onde estes têm relação com ossos.
• a cartilagem elástica é atravessada por uma rica rede de fibras elásticas, o que lhe dá, além de uma aparência amarelada, a capacidade de retornar rapidamente a sua forma original, quando tracionada ou torcida. A cartilagem elástica ocorre somente nas partes móveis do ouvido externo, no nariz e na epiglote.
LIGAMENTOS
Um ligamento é uma faixa ou corda bem definida de tecido fibroso unindo dois ossos. A maioria dos ligamentos atua resistindo ao movimento de uma articulação em uma direção específica. Existem aqueles que são espessamentos localizados da cápsula da articulação (ligamentos capsulares), outros que são completamente isolados da cápsula da articulação sobre a qual atuam (ligamentos extracapsulares) e outros, ainda, que estão situados dentro da articulação (ligamentos intracapsulares).
Algumas estruturas, tais como o ligamento inguinal e o ligamento redondo do fígado, que recebem a denominação de ligamentos não o são no sentido estrito do termo. Também distantes deste sentido estrito, recebem o nome de ligamentos, algumas pregas do peritônio, que contêm vasos sangüíneos e tecido conjuntivo e unem uma víscera a outra ou a parede do corpo.
ARTICULAÇÕES
Articulação ou juntura é a conexão entre duas ou mais peças esqueléticas (ossos ou cartilagens). Essas uniões não só colocam as peças do esqueleto em contato, como também permitem que o crescimento ósseo ocorra e que certas partes do esqueleto mudem de forma durante o parto. Além disto, capacitam que partes do corpo se movimentem em resposta a contração muscular.
Embora apresentem consideráveis variações entre elas, as articulações possuem certos aspectos estruturais e funcionais em comum que permitem classificá-las em três grandes grupos: fibrosas, cartilaginosas e sinoviais. O critério para esta divisão é o da natureza do elemento que se interpõe às peças que se articulam.
ARTICULAÇÕES FIBROSAS
As articulações nas quais o elemento que se interpõe às peças que se articulam é o tecido conjuntivo fibroso são ditas fibrosas (ou sinartroses). O grau de mobilidade delas, sempre pequeno, depende do comprimento das fibras interpostas. Existem três tipos de articulações fibrosas: sutura, sindesmose e gonfose.
As suturas, que são encontradas somente entre os ossos do crânio, são formadas por várias camadas fibrosas, sendo a união suficientemente íntima de modo a limitar intensamente os movimentos, embora confiram uma certa elasticidade ao crânio. A maneira pela qual as bordas dos ossos articulados entram em contato é variável, reconhecendo-se suturas planas (união linear retilínea ou aproximadamente retilínea), suturas escamosas (união em bisel) e suturas serreadas (união em linha “denteada”). No crânio, a articulação entre os ossos nasais é uma sutura plana; entre os parietais, sutura denteada; entre o parietal e o temporal, escamosa.
No crânio do feto e recém-nascido, onde a ossificação ainda é incompleta, a quantidade de tecido conjuntivo fibroso interposto é muito maior, explicando a grande separação entre os ossos e uma maior mobilidade. Estas áreas fibrosas são denominadas fontículos (ou fontanelas). São elas que permitem, no momento do parto, uma redução bastante apreciável do volume da cabeça fetal pela sobreposição dos ossos do crânio. Esta redução de volume facilita a expulsão do feto para o meio exterior.
Na idade avançada pode ocorrer ossificação do tecido interposto (sinostose), fazendo com que as suturas, pouco a pouco, desapareçam e, com elas, a elasticidade do crânio.
Nas sindesmoses os ossos estão unidos por uma faixa de tecido fibroso, relativamente longa, formando ou um ligamento interósseo ou uma membrana interóssea, nos casos, respectivamente de menor ou maior comprimento das fibras, o que condiciona um menor ou maior grau de movimentação. Exemplos típicos são a sindesmose tíbio-fibular e a membrana interóssea radio-ulnar.
Gonfose é a articulação específica entre os dentes e seus receptáculos, os alvéolos dentários. O tecido fibroso do ligamento periodontal segura firmemente o dente no seu alvéolo. A presença de movimentos nesta articulação significa uma condição patológica.
ARTICULAÇÕES CARTILAGINOSAS
Nas articulações cartilaginosas o tecido que se interpõe é a cartilagem. Quando se trata de cartilagem hialina, temos as sincondroses; nas sínfises a cartilagem é fibrosa. Em ambas a mobilidade é reduzida. As sincondroses são raras e o exemplo mais típico é a sincondrose esfeno-occipital que pode ser visualizada na base do crânio. Exemplo de sínfise é a união, no plano mediano, entre as porções púbicas dos ossos do quadril, constituindo a sínfise púbica. Também as articulações que se fazem entre os corpos das vértebras podem ser consideradas como sínfise, uma vez que se interpõe entre eles um disco de fibrocartilagem - o disco intervertebral.
ARTICULAÇÕES SINOVIAIS
A mobilidade exige livre deslizamento de uma superfície óssea contra outra e isto é impossível quando entre elas interpõe-se um meio de ligação, seja fibroso ou cartilagíneo. Para que haja o grau desejável de movimento, em muitas articulações, o elemento que se interpõe às peças que se articulam é um líquido denominado sinóvia, ou líquido sinovial.
Além da presença deste líquido, as articulações sinoviais possuem três outras características básicas: cartilagem articular, cápsula articular e cavidade articular.
• a cartilagem articular é a cartilagem do tipo hialino que reveste as superfícies em contato numa determinada articulação (superfícies articulares), ou seja, a cartilagem articular é a porção do osso que não foi invadida pela ossificação. Em virtude deste revestimento as superfícies articulares se apresentam lisas, polidas e de cor esbranquiçada. A cartilagem articular é avascular e não possui também inervação. Sua nutrição, portanto, principalmente nas áreas mais centrais, é precária, o que torna a regeneração, em caso de lesões, mais difícil e lenta.
• a cápsula articular é uma membrana conjuntiva que envolve a articulação sinovial como um manguito. Apresenta-se com duas camadas: a membrana fibrosa (externa) e a membrana sinovial (interna). A primeira é mais resistente e pode estar reforçada, em alguns pontos, por ligamentos , destinados a aumentar sua resistência. Em muitas articulações sinoviais, todavia, existem ligamentos independentes da cápsula articular e em algumas, como na do joelho, aparecem também ligamentos intra-articulares.
• cavidade articular é o espaço existente entre as superfícies articulares, estando preenchido pelo líquido sinovial
Ligamentos e cápsula articular têm por finalidade manter a união entre os ossos, mas além disto, impedem o movimento em planos indesejáveis e limitam a amplitude dos movimentos considerados normais.
A membrana sinovial é a mais interna das camadas da cápsula articular. É abundantemente vascularizada e inervada, sendo encarregada da produção da sinóvia (líquido sinovial), o qual tem consistência similar a clara do ovo e tem por funções lubrificar e nutrir as cartilagens articulares. O volume de líquido sinovial presente em uma articulação é mínimo, somente o suficiente para revestir delgadamente as superfícies articulares e localiza-se na cavidade articular.
Além destas características, que são comuns a todas articulações sinoviais, em várias delas encontram-se formações fibrocartilagíneas, interpostas às superfícies articulares, os discos e meniscos, de função discutida: serviriam à melhor adaptação das superfícies que se articulam (tornando-as congruentes) ou seriam estruturas destinadas a receber violentas pressões, agindo como amortecedores. Meniscos, com sua característica forma de meia lua, são encontrados na articulação do joelho. Discos são encontrados nas articulações esternoclavicular e temporomandibular.

MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS
As articulações fibrosas e cartilagíneas têm um mínimo grau de mobilidade. Assim, a verdadeira mobilidade articular é dada pelas articulações sinoviais. Estes movimentos ocorrem, obrigatoriamente, em torno de um eixo, denominado eixo de movimento. A direção destes eixos é ântero-posterior, látero-lateral e longitudinal. Na análise do movimento realizado, a determinação do eixo de movimento é feita obedecendo a regra, segundo a qual, a direção do eixo de movimento é sempre perpendicular ao plano no qual se realiza o movimento em questão. Assim, todo movimento é realizado em um plano determinado e o seu eixo de movimento é perpendicular àquele plano. Os movimentos executados pelos segmentos do corpo recebem nomes específicos e aqui serão definidos, a seguir, apenas os mais comuns:
• flexão e extensão são movimentos angulares, ou seja, neles ocorre uma diminuição ou um aumento do ângulo existente entre o segmento que se desloca e aquele que permanece fixo. Quando ocorre a diminuição do ângulo diz-se que há flexão; quando ocorre o aumento, realizou-se a extensão, exceto para o pé. Neste caso, não se usa a expressão extensão do pé: os movimentos são definidos como flexão dorsal e flexão plantar do pé. Os movimentos angulares de flexão e extensão ocorrem em plano sagital e, seguindo a regra, o eixo desses movimentos é látero-lateral.
• adução e abdução que são movimentos nos quais o segmento é deslocado, respectivamente, em direção ao plano mediano ou em direção oposta, isto é, afastando-se dele. Para os dedos prevalece o plano mediano do membro. Os movimentos da adução e abdução desenvolvem-se em plano frontal e seu eixo de movimento é ântero-posterior.
• rotação que é o movimento em que o segmento gira em torno de um eixo longitudinal (vertical). Assim, nos membros, pode-se reconhecer uma rotação medial, quando a face anterior do membro gira em direção ao plano mediano do corpo, e uma rotação lateral, no movimento oposto. A rotação é feita em plano horizontal e o eixo de movimento, perpendicular a este plano é vertical.
• circundução, é o resultado do movimento combinatório que inclui a adução, extensão, abdução, flexão e rotação. Neste tipo de movimento, a extremidade distal do segmento descreve um círculo e o corpo do segmento, um cone, cujo vértice é representado pela articulação que se movimenta.
CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS
O movimento nas articulações depende, essencialmente, da forma das superfícies que entram em contato e dos meios de união que podem limitá-lo. Na dependência destes fatores as articulações podem realizar movimentos em torno de um, dois ou três eixos. Este é o critério adotado para classificá-las funcionalmente. Quando uma articulação realiza movimentos apenas em torno de um eixo, diz-se que é mono-axial ou que possui um só grau de liberdade; será bi-axial a que os realiza em torno de dois eixos (dois graus de liberdade); e tri-axial se eles forem realizados em torno de três eixos (três graus de liberdade). Assim, as articulações que só permitem a flexão e extensão, como a do cotovelo, são mono-axiais; aquelas que realizam extensão, flexão, adução e abdução, como a radio-cárpica (articulação do punho), são bi-axiais; finalmente, as que além de flexão, extensão, abdução e adução, permitem também a rotação, são ditas tri-axiais, cujos exemplos típicos são as articulações do ombro e do quadril.
CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS
O critério de base para a classificação morfológica das articulações sinoviais é a forma das superfícies articulares. Contudo, às vezes é difícil fazer esta correlação. Além disto, existem divergências entre anatomistas quanto não só a classificação de determinadas articulações, mas também quanto à denominação dos tipos. De acordo com a nomenclatura anatômica, os tipos morfológicos de articulações sinoviais são:
• plana, na qual as superfícies articulares são planas ou ligeiramente curvas, permitindo deslizamento de uma superfície sobre a outra em qualquer direção. A articulação acromioclavicular (entre o acrômio da escápula e a clavícula) é um exemplo. Deslizamento existe em todas as articulações sinoviais mas nas articulações planas ele é discreto, fazendo com que a amplitude do movimento seja bastante reduzida. Entretanto, deve-se ressaltar que pequenos deslizamentos entre vários ossos articulados permitem apreciável variedade e amplitude de movimento. É isto que ocorre, por exemplo, nas articulações entre os ossos curtos do carpo, do tarso e entre os corpos das vértebras.
• gínglimo, ou dobradiça, sendo que os nomes referem-se muito mais ao movimento (flexão e extensão) que elas realizam do que à forma das superfícies articulares. A articulação do cotovelo é um bom exemplo de gínglimo e a simples observação mostra como a superfície articular do úmero, que entra em contato com a ulna, apresenta-se em forma de carretel. Todavia, as articulações entre as falanges também são do tipo gínglimo e nelas a forma das superfícies articulares não se assemelha a um carretel. Este é um caso concreto em que o critério morfológico não foi rigorosamente obedecido. Realizando apenas flexão e extensão, as articulações sinoviais do tipo gínglimo são mono-axiais.
• trocóide, na qual, as superfícies articulares são segmentos de cilindro e, por esta razão, cilindróides talvez fosse um termo mais apropriado para designá-las. Estas articulações permitem rotação e seu eixo de movimento, único, é vertical: são mono-axiais. Um exemplo típico é a articulação radio-ulnar proximal (entre o rádio e a ulna) responsável pelos movimentos de pronação e supinação do antebraço. Na pronação ocorre uma rotação medial do rádio e, na supinação, rotação lateral. Na posição de descrição anatômica o antebraço está em supinação.
• condilar, cujas superfícies articulares são de forma elíptica e elipsóide seria talvez um termo mais adequado. Estas articulações permitem flexão, extensão, abdução e adução, mas não a rotação. Possuem dois eixos de movimento, sendo portanto bi-axiais. A articulação radio-cárpica (ou do punho) é um exemplo. Outros são a articulação temporomandibular e as articulações metacarpofalângicas.
• selar, na qual a superfície articular de uma peça esquelética tem a forma de sela, apresentando concavidade num sentido e convexidade em outro, e se encaixa numa segunda peça onde convexidade e concavidade apresentam-se no sentido inverso da primeira. A articulação carpo-metacárpica do polegar é exemplo típico. É interessante notar que esta articulação permite flexão, extensão, abdução, adução e rotação (conseqüentemente, também circundução) mas é classificada como bi-axial. O fato é justificado porque a rotação isolada não pode ser realizada ativamente pelo polegar sendo só possível com a combinação dos outros movimentos.
• esferóide, que apresenta superfícies articulares que são segmentos de esferas e se encaixam em receptáculos ocos. O suporte de uma caneta de mesa, que pode ser movimentado em qualquer direção, é um exemplo não anatômico de uma articulação esferóide. Este tipo de articulação permite movimentos em torno de três eixos, sendo portanto, tri-axial. Assim, a articulação do ombro (entre o úmero e a escápula) e a do quadril (entre o osso do quadril e o fêmur) permitem movimentos de flexão, extensão, adução, abdução, rotação e circundução.
COMPLEXIDADE DE ORGANIZAÇÃO
Quando apenas dois ossos entram em contato numa articulação sinovial diz-se que ela é simples (por exemplo, a articulação do ombro); quando três ou mais ossos participam da articulação ela é denominada composta (a articulação do cotovelo envolve três ossos: úmero, ulna e rádio).
INERVAÇÃO
As articulações sinoviais são muito inervadas. Os nervos são derivados dos que suprem a pele adjacente ou os músculos que movem as articulações.
As terminações nervosas sensíveis a dor são numerosas na membrana fibrosa da cápsula e nos ligamentos e são sensíveis ao estiramento e à torção destas estruturas. Contudo, o principal tipo de sensibilidade é a propriocepção.
Das terminações proprioceptoras da cápsula - fusos neurotendinosos - partem impulsos que interpretados no sistema nervoso central informam sobre a posição relativa dos ossos da articulação, do grau e direção de movimento. As vezes, essas informações são inconscientes, e atuam em nível de medula espinhal para controle dos músculos que agem sobre a articulação.
MÚSCULOS
A capacidade de reagir em resposta a uma modificação do meio ambiente constitui uma das propriedades fundamentais do protoplasma animal. Assim, um ser unicelular em contato com um agente irritante contrai-se no ponto de estímulo e emite um prolongamento do citoplasma no ponto oposto àquele que foi estimulado. Diz-se que a célula contraiu-se ao ser estimulada, distanciando-se do agente de estímulo; em suma, ocorreu um movimento. Porém, sendo unicelular, ele deve realizar com uma única célula, um sem número de atividades: respiração, absorção, excreção etc. Nos seres multicelulares, as células diferenciam-se para realizar funções específicas: algumas são apropriadas à respiração, outras à absorção, etc. As chamadas células musculares especializam-se para a contração e o relaxamento. Estas células agrupam-se em feixes para formar massas macroscópicas chamadas músculos, os quais acham-se fixados pelas suas extremidades. Assim, músculos são estruturas que movem os segmentos do corpo por encurtamento da distancia que existe entre suas extremidades fixadas, ou seja, por contração. Dentro do aparelho locomotor, constituído pelos ossos, articulações e músculos, estes últimos são os elementos ativos do movimento. Além de tornar possível o movimento, a musculatura também mantém unidas as peças do esqueleto, determinando a posição e a postura do esqueleto.
MÚSCULO ESQUELÉTICO
A célula muscular está normalmente sob o controle do sistema nervoso. Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual divide-se em muitos ramos para poder controlar todas as células do músculo. As divisões mais delicadas, microscópicas, destes ramos terminam, em cada célula muscular, num mecanismo especializado conhecido como placa motora. Quando o impulso nervoso passa através do nervo, a placa motora transmite o impulso à célula muscular determinando a sua contração. Se o impulso para a contração resulta de um ato de vontade diz-se que o músculo é voluntário; se o impulso parte de uma porção do sistema nervoso sobre o qual o indivíduo não tem controle consciente, diz-se que o músculo é involuntário. Os músculos voluntários distinguem-se histologicamente dos involuntários por apresentar estriações transversais. Por esta razão são estriados, enquanto os involuntários são lisos. O músculo cardíaco, por sua vez, assemelha-se ao músculo estriado, histologicamente, mas atua como músculo involuntário, além de se diferenciar dos dois por uma série de características que lhe são próprias. Também é possível distinguir os músculos estriados dos lisos pela topografia: os primeiros são esqueléticos, isto é, estão fixados, pelo menos por uma das extremidades, ao esqueleto; os últimos são viscerais, isto é, são encontrados na parede das vísceras de diversos sistemas do organismo. Entretanto, músculos estriados são também encontrados em algumas vísceras, e músculos lisos podem estar, excepcionalmente, submetidos ao controle da vontade.
Um músculo esquelético típico possui uma porção média e extremidades. A porção média é carnosa, vermelha no vivente e recebe o nome de ventre muscular. Nele predominam as fibras musculares, sendo, portanto a parte ativa do músculo, isto é, a parte contrátil. Quando as extremidades são cilindróides ou então têm forma de fita, chamam-se tendões; quando são laminares, recebem a denominação de aponeuroses.
Tanto tendões quanto aponeuroses são esbranquiçados e brilhantes, muito resistentes e praticamente inextensíveis, constituídos por tecido conjuntivo denso, rico em fibras colágenas. De um modo geral, os músculos se prendem a duas áreas do corpo, em geral no esqueleto, por seus tendões e aponeuroses, enquanto o ventre muscular não se prende, para que possa contrair-se livremente. Na contração muscular, uma delas permanece fixa e a outra se move. A fixa é a origem e a móvel é a inserção. Portanto, os conceitos de origem e inserção são dinâmicos, dependendo de que peça se move e de qual permanece fixa.
Estes conceitos, que são genéricos, admitem algumas exceções, tais como: os tendões ou aponeuroses nem sempre se prendem ao esqueleto, podendo fazê-lo em outros elementos (cartilagem, cápsulas articulares, septos intermusculares, derme, tendão de outro músculo etc.); em um grande número de músculos, as fibras dos tendões têm dimensões tão reduzidas que se tem a impressão de que o ventre muscular se prende diretamente no osso; em uns poucos músculos, aparecem tendões interpostos a ventres de um mesmo músculo, e esses tendões não servem para fixação no esqueleto.
A fáscia muscular é uma lâmina de tecido conjuntivo que envolve cada músculo. A espessura da fáscia muscular varia de músculo para músculo, dependendo de sua função. Às vezes a fáscia muscular é muito espessada e pode contribuir para prender o músculo ao esqueleto.
Para que os músculos possam exercer eficientemente um trabalho de tração ao se contrair, é necessário que eles estejam dentro de uma bainha elástica de contenção, papel executado pela fáscia muscular. Outra função desempenhada pelas fáscias é permitir o fácil deslizamento dos músculos entre si.
Em algumas regiões do corpo as fáscias musculares vão além de serem somente envoltórios musculares. Assim, nos membros, além de cada músculo ser envolvido por sua fáscia, todo o conjunto muscular também é envolto por uma fáscia mais espessa, da qual partem prolongamentos que vão se fixar nos ossos, separando grupos musculares. Estes prolongamentos são chamados de septos intermusculares. A fáscia muscular que envolve os músculos da parede abdominal apresenta setores ocupados por músculos e setores desocupados.
CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS
Os músculos são classificados de várias formas. As mais comumente empregadas são as que o fazem em relação à forma do músculo e ao arranjo de suas fibras e às extremidades e ao ventre muscular
A função do músculo condiciona sua forma e arranjo de suas fibras. como as funções dos músculos são múltiplas e variadas, também o são sua morfologia e arranjo de suas fibras. De um modo geral e amplo, os músculos têm as fibras dispostas paralelas ou oblíquas à direção de tração exercida pelo músculo.
A disposição paralela das fibras pode ser encontrada tanto em músculos nos quais predomina o comprimento - músculos longos-, quanto em músculos nos quais comprimento e largura se equivalem - músculos largos -. Nos músculos longos é muito comum notar-se uma convergência das fibras musculares em direção aos tendões de origem e inserção, de tal modo que na parte média o músculo tem maior diâmetro que nas extremidades e por seu aspecto característico é denominado fusiforme. Músculos fusiformes são muito freqüentes nos membros. Nos músculos largos, as fibras podem convergir para um tendão em uma das extremidades, tomando o aspecto de leque.
Músculos cujas fibras são oblíquas em relação aos tendões denominam-se penados, porque esta disposição lembra a das barbas de uma pena. Se os feixes musculares se prendem numa só borda do tendão fala-se em músculo unipenado, se os feixes se prendem nas duas bordas do tendão, será bipenado.
Quando os músculos se originam por mais de um tendão, diz-se que apresentam mais de uma cabeça de origem. São então classificados como músculos bíceps, tríceps ou quadríceps, conforme apresentam 2, 3 ou 4 cabeças de origem. Exemplos clássicos são encontrados na musculatura dos membros e a nomenclatura acompanha a classificação: m. bíceps braquial, m. tríceps da perna, m. quadríceps da coxa.
Do mesmo modo, os músculos podem inserir-se por mais de um tendão. Quando há dois tendões, são bicaudados; três ou mais, policaudados.
Alguns músculos apresentam mais de um ventre muscular, com tendões intermediários situados entre eles. São digástricos os músculos que apresentam dois ventres e poligástricos os que apresentam maior número de ventres.
CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS
Quando um músculo é o agente principal na execução de um movimento ele é um agonista. Quando um músculo se opõe ao trabalho de um agonista, é um antagonista. Quando atua no sentido de eliminar algum movimento indesejado que poderia ser produzido pelo agonista é um sinergista. Assim, o músculo braquial quando se contrai é o agente ativo na flexão do antebraço, sendo pois um agonista. O músculo tríceps braquial, que opõe-se a este movimento, retardando-o, para que ele não ocorra bruscamente, atua como um antagonista. Na flexão dos dedos, os músculos flexores dos dedos são os agonistas. Como os tendões de inserção destes músculos cruzam a articulação do punho, a tendência natural é provocar também a flexão da mão. Isto não ocorre porque outros músculos, como os extensores do carpo, se contraem e desta forma estabilizam a articulação do punho, impedindo o movimento indesejado e atuando assim como sinergistas.
Os músculos que fixam um segmento do corpo para permitir um apoio básico nos movimentos executados por outros músculos são chamados de fixadores ou posturais, como ocorre na contração dos músculos abdominais para permitir a flexão do braço contra resistência. Alguns anatomistas consideram os sinergistas como uma subcategoria dos fixadores. Independente de sutilezas conceituais, é importante notar que estes conceitos são dinâmicos, ou seja, um músculo que em determinado momento é agonista em outro pode ser antagonista ou fixador ou sinergista.
MECÂNICA MUSCULAR
A contração do ventre muscular vai produzir um trabalho mecânico, em geral representado pelo deslocamento de um segmento do corpo. Ao contrair-se o ventre muscular, há um encurtamento do comprimento do músculo e conseqüente deslocamento da peça esquelética.
O trabalho realizado por um músculo depende da potência do músculo e da amplitude de contração do mesmo. A amplitude de contração depende do comprimento das fibras musculares. Assim, um músculo longo tem o mais alto grau de encurtamento. A potência (ou força) é função do número de fibras que se contraem e número de fibras contido em uma secção transversal do músculo, o que é medido em ângulo reto com o eixo maior dos fascículos musculares e não com o eixo maior do músculo como um todo.
Desta forma, o que um músculo penado perde em amplitude de contração, ganha em força.
Como foi anteriormente dito, o trabalho do músculo se manifesta pelo deslocamento de um (ou mais) osso(s). Os músculos agem sobre os ossos como potências sobre braços de alavancas. No caso da musculatura cardíaca e dos músculos lisos, geralmente situadas nas paredes de vísceras ocas ou tubulares, também se produz um trabalho: a contração da musculatura destes órgãos reduz seu volume ou seu diâmetro e desta forma vai expelir ou impulsionar seu conteúdo.
A célula muscular obedece a chamada lei do tudo ou nada, ou seja, ou está completamente contraída ou está totalmente relaxada. Assim, a quantidade de fibras musculares que vai estar envolvida com o trabalho de um músculo, ao mesmo tempo, vai depender de quantas unidades motoras ele possua. Denomina-se unidade motora ao conjunto de fibras de um músculo supridas pelo mesmo neurônio. Desta forma um músculo com poucas unidades motoras é um músculo de movimentos mais grosseiros, enquanto aquele que possui muitas unidades motoras é capaz de movimentos de alta precisão e delicadeza.

SISTEMA CIRCULATÓRIO
O sistema circulatório é dividido em sistema circulatório sangüíneo, com as funções de levar oxigênio e nutrientes aos tecidos e deles trazer seus produtos, que serão redistribuídos a outros órgãos e tecidos e seus resíduos, que serão eliminados (ver sistema urinário) e em sistema circulatório linfático, que transporta para a circulação sangüínea o excesso de líquido intersticial, bem como substâncias de grande tamanho, incapazes de passar diretamente dos tecidos para aquela. Além disto ajuda na defesa do organismo contra o ataque de microrganismos.
Em síntese o sistema circulatório pode ser dividido em: sistema sangüíneo composto por artérias, veias, capilares e coração e cujo fluido é o sangue e em sistema linfático, formado por vasos linfáticos, linfonodos, tonsilas e órgãos hemopoiéticos e cujo fluido é a linfa.

SISTEMA CIRCULATÓRIO SANGÜÍNEO
O sistema circulatório sangüíneo é formado por um circuito fechado de tubos (artérias, capilares e veias) dentro dos quais circula o sangue e por um órgão central, o coração, que atua como bomba aspirante-premente.
ARTÉRIAS
As artérias são os vasos que transportam o sangue centrifugamente ao coração. Distribuem-se por praticamente todo o corpo, iniciando por grandes troncos que vão se ramificando progressivamente. Estes ramos podem ser colaterais ou terminais. Quando uma artéria dá ramos e deixa de existir por causa desta divisão, diz-se que estes ramos são terminais. Quando a artéria emite ramos e continua a existir, estes ramos são chamados de colaterais. Estes, que são a grande maioria dos ramos arteriais, se separam do tronco arterial mais comumente em ângulo agudo, mas podem fazê-lo em ângulo reto ou, mais raramente, em ângulo obtuso. Estes seguem um trajeto retrógrado e são denominados de recorrentes.
CAPILARES
As artérias se ramificam e se tornam, progressivamente, menos calibrosas e com as paredes mais finas, até chegarem aos capilares, que são de dimensões microscópicas e cujas paredes são uma simples camada de células (endotélio). Sua distribuição é quase universal no corpo, sendo rara sua ausência, como ocorre na epiderme, na cartilagem hialina, na córnea e no cristalino. É ao nível dos capilares, graças a aberturas existentes entre células endoteliais vizinhas( poros capilares), que ocorrem as trocas entre o sangue e os tecidos. Estas aberturas variam de dimensões de tecido para tecido.
VEIAS
As veias são os vasos que transportam o sangue centripetamente ao coração. Sua formação lembra a formação dos rios: afluentes vão confluindo no leito principal e o caudal deste torna-se progressivamente mais volumoso. As veias recebem numerosas tributárias e seu calibre aumenta à medida que se aproximam do coração, exatamente o oposto do que ocorre com as artérias, nas quais o calibre vai diminuindo à medida que emitem ramos e se afastam do coração. De acordo com sua localização em relação às camadas do corpo, as veias são classificadas em superficiais e profundas. Estas podem ser solitárias. ou seja, não acompanham artérias ou , o que é mais comum, satélites, quando acompanham as artérias. Neste caso são, geralmente, em número de duas para cada artéria. As veias superficiais possuem trajeto independente do das artérias e se comunicam com as profundas por inúmeras anastomoses. Na superfície interna de muitas veias existem pregas membranosas, de forma semilunar, geralmente aos pares, denominadas válvulas, as quais , por direcionarem o fluxo sangüíneo, contrabalançam a ação da gravidade, desfavorável à circulação nas veias de trajeto ascendente. Assim, nas veias dos membros as válvulas são comuns, enquanto na cabeça e pescoço são ausentes ou vestigiais.
CORAÇÃO
O coração, localizado no mediastino torácico ( porção mediana do tórax, compreendida entre as cavidades pulmonares é um órgão muscular oco que funciona como uma bomba contrátil-propulsora. O tecido muscular que forma o coração é de tipo especial, tecido muscular estriado cardíaco, e constitui sua camada média, o miocárdio. Este é revestido internamente por endotélio, o qual é contínuo com a camada íntima dos vasos que chegam ou saem do coração. Esta camada interna é o endocárdio. Externamente ao miocárdio, há uma serosa revestindo-o, denominada epicárdio. A cavidade do coração é subdividida em quatro câmaras: duas à direita, o átrio e o ventrículo direitos e duas à esquerda, o átrio e o ventrículo esquerdos. O átrio direito se comunica com o ventrículo direito através do óstio atrioventricular direito, no qual existe um dispositivo direcionador do fluxo, a valva tricúspide. O mesmo ocorre à esquerda, através do óstio atrioventricular esquerdo, cujo dispositivo direcionador de fluxo é a valva mitral. As cavidades direitas são separadas das esquerdas pelos septos interatrial e interventricular.
Ao átrio direito, através das veias cavas inferior e superior chega o sangue venoso do corpo (com baixa pressão de O2 e alta pressão de CO2). Ele passa ao ventrículo direito através do óstio atrioventricular direito e deste vai ao tronco pulmonar e daí, através das artérias pulmonares direita e esquerda, dirige-se aos pulmões, onde ocorrerá a troca gasosa, com CO2 sendo liberado dos capilares pulmonares para o meio ambiente e com O2 sendo absorvido do meio ambiente para os capilares pulmonares. Estes capilares confluem e, progressivamente, se formam as veias pulmonares que levam sangue rico em O2 para o átrio esquerdo. Deste, o sangue passa ao ventrículo esquerdo através do óstio atrioventricular esquerdo e daí vai para a artéria aorta, que inicia sua distribuição pelo corpo.
O trajeto ventrículo esquerdo aorta artérias de calibres progressivamente menores capilares veias de calibres progressivamente maiores veias cavas superior e inferior átrio direito, é chamado de grande circulação ou circulação sistêmica.
O trajeto ventrículo direito tronco pulmonar artérias pulmonares direita e esquerda, com redução progressiva de calibre capilares pulmonares veias pulmonares com aumento progressivo de calibre átrio esquerdo, é chamado de pequena circulação ou circulação pulmonar.
PERICÁRDIO
Envolvendo o coração, separando-o dos outros órgãos do tórax e limitando sua distensão existe um saco fibro-seroso, o pericárdio. Ele é constituído por uma camada externa fibrosa, o pericárdio fibroso e por uma camada interna serosa, o pericárdio seroso. Este possui uma lâmina parietal, aderente ao pericárdio fibroso e uma lâmina serosa, aderente ao miocárdio, ou seja, a lâmina serosa é o epicárdio.
SISTEMA CIRCULATÓRIO LINFÁTICO
O sistema linfático é formado por vasos linfáticos e linfonodos situados ao longo do trajeto dos vasos. Estes atuam basicamente como um sistema auxiliar de drenagem, pois nem todas as moléculas do líquido tecidual passam para os capilares sangüíneos, em especial as de grande tamanho, que são recolhidas em capilares especiais, os capilares linfáticos, de fundo cego, de onde a linfa segue para os vasos linfáticos e destes para os troncos linfáticos, os mais volumosos, que por sua vez lançam a linfa em veias de médio ou grande calibre. Por serem capazes de absorver estruturas de maior calibre, os capilares linfáticos podem captar também restos de células normais ou inflamatórias e bactérias.
Para evitar que estas substâncias estranhas ao organismo penetrem na circulação sangüínea e se disseminem por todo o corpo existem ao longo dos vasos linfáticos estruturas denominadas linfonodos, que atuam como uma barreira ou filtro contra estes agentes agressores. Os linfonodos são, portanto, elementos de defesa do organismo e para tanto produzem glóbulos brancos, principalmente linfócitos. Os linfonodos variam muito em forma, tamanho e coloração, ocorrendo geralmente em grupos, embora possam apresentar-se isolados. Como resposta a uma inflamação, o linfonodo pode intumescer-se e tornar-se doloroso, fenômeno conhecido tecnicamente como linfadenite ou popularmente como íngua. As tonsilas são órgãos linfóides situados na orofaringe compostos por linfonodos parcialmente encapsulados.
SISTEMA NERVOSO
As funções orgânicas, bem como a integração ao meio ambiente estão na dependência de um sistema especial denominado sistema nervoso. Isto significa que este sistema não só controla e coordena as funções de todos os sistemas do organismo como também, ao receber os devidos estímulos, é capaz de interpretá-los e desencadear respostas adequadas a eles. Desta forma, muitas funções do sistema nervoso dependem da vontade (caminhar, por exemplo, é um ato voluntário) e muitas outras ocorrem sem que se tenha consciência delas (a secreção de saliva, por exemplo, ocorre independentemente da vontade).
O sistema nervoso é dividido em duas partes fundamentais que são o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico. O sistema nervoso central é a porção de recepção de estímulos, de comando e desencadeadora de respostas, sendo formado pelo encéfalo e pela medula espinhal. A porção periférica está constituída pelas vias que conduzem os estímulos ao sistema nervoso central ou que levam até aos órgãos efetuadores as ordens emanadas da porção central, sendo formado pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
O sistema nervoso central é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal, protegidos, respectivamente. pelo crânio e pela coluna vertebral Esta proteção é reforçada pela presença de lâminas de tecido conjuntivo, as meninges. Elas são, de fora para dentro: dura-máter, aracnóide e pia-máter. A dura-máter é a mais espessa delas, sendo que no crânio está associada ao periósteo da face interna dos ossos, enquanto entre ela e a coluna vertebral existe um espaço, o espaço extradural (ou epidural). A pia-máter é a mais fina e está intimamente aplicada ao encéfalo e a medula espinhal. Entre a dura e a pia-máter está a aracnóide, da qual partem fibras delicadas que vão a pia-máter, formando uma rede semelhante a uma teia de aranha. A aracnóide é separada da dura-máter por um espaço capilar, o espaço subdural e da pia-máter pelo espaço subaracnóideo, onde circula o líquido cérebro-espinhal ou líquor, o qual funciona como absorvente de choques.
O encéfalo é dividido em cérebro, cerebelo, mesencéfalo, ponte e bulbo, sendo estes três últimos conhecidos em conjunto como tronco encefálico. A maior parte do encéfalo corresponde ao cérebro, constituído por duas massas, os hemisférios cerebrais, unidos por uma ponte de fibras nervosas, o corpo caloso e separados por uma lâmina de dura-máter, a foice do cérebro. Na superfície dos hemisférios existem depressões, os sulcos que delimitam giros. Os hemisférios podem ser divididos em lobos, correspondendo cada um aos ossos do crânio com que guardam relações, existindo, portanto, os lobos frontal, occipital, temporal e parietal. O cérebro responde pelas funções nervosas mais elevadas, contendo centros para interpretação de estímulos bem como centros que iniciam movimentos musculares. Ele armazena informações e é responsável também por processos psíquicos altamente elaborados, determinando a inteligência e a personalidade. O cerebelo atua, basicamente, como coordenador dos movimentos da musculatura esquelética e na manutenção do equilíbrio. O tronco encefálico, além de ser a origem de dez dos doze nervos cranianos, é sede de várias funções ligadas ao controle das atividades involuntárias e das emoções.
A medula espinhal é formada por trinta e um segmentos, cada um dos quais dá origem a um par de nervos espinhais. Ela atua como um caminho pelo qual passam impulsos que vão ou vem do encéfalo para várias partes do corpo.
A observação atenta de um corte de qualquer área do SNC permite reconhecer áreas claras e escuras que representam, respectivamente, o que se chama de substância branca e substância cinzenta. A primeira está constituída, predominantemente, por fibras nervosas mielínicas e a segunda por corpos de neurônios. No cérebro e no cerebelo a estrutura geral é a mesma: uma massa de substância branca, revestida externamente por uma fina camada de substância cinzenta e tendo no centro massas de substância cinzenta constituindo os núcleos (acúmulos de corpos neuronais dentro do SNC). Na medula, a substância cinzenta forma um eixo central contínuo envolvido por substância branca, enquanto no tronco encefálico a substância cinzenta central não é contínua, apresentando-se fragmentada, formando núcleos.
SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO
O sistema nervoso periférico é composto por terminações nervosas, gânglios e nervos. Estes são cordões esbranquiçados formados por fibras nervosas unidas por tecido conjuntivo e que têm por função levar (ou trazer) impulsos ao (do) SNC. As fibras que levam impulsos ao SNC são chamadas de aferentes ou sensitivas, enquanto que as que trazem impulsos do SNC são as aferentes ou motoras. Os nervos são divididos em dois grupos: nervos cranianos e nervos espinhais.
NERVOS ESPINHAIS
O nervo espinhal é formado pela fusão de duas raízes: uma ventral e outra dorsal. A raiz ventral possui apenas fibras motoras (eferentes), cujos corpos celulares estão situados na coluna anterior da substância cinzenta da medula. A raiz dorsal possui fibras sensitivas (aferentes) cujos corpos celulares estão no gânglio sensitivo da raiz dorsal, que se apresenta como uma porção dilatada da própria raiz. Como o nervo espinhal é formado pela fusão destas raízes, ele é sempre misto, ou seja tem fibras aferentes e eferentes. Logo após sua formação pela fusão das raízes ventral e dorsal o nervo espinhal se divide em dois ramos: ramo dorsal, menos calibroso e que inerva a pele e os músculos do dorso e ramo ventral, mais calibroso e que inerva os membros e a porção ântero-lateral do tronco.
Os ramos ventrais que inervam os membros se anastomosam amplamente formando os plexos, dos quais emergem nervos terminais, de tal forma que cada ramo ventral contribui para formar vários nervos e cada nervo contem fibras provenientes de diversos ramos ventrais. Já no tronco não há a formação dos plexos; cada ramo ventral segue seu curso isolado.
NERVOS CRANIANOS
Os nervos cranianos são doze pares de nervos que fazem conexão com o encéfalo. Os dois primeiros têm conexão com o cérebro e os demais com o tronco encefálico. Os nervos cranianos são mais complexos que os espinhais, havendo acentuada variação quanto aos seus componentes funcionais. Alguns possuem um gânglio, outros tem mais de um e outros, ainda, não tem nenhum. Também não são obrigatoriamente mistos como os nervos espinhais. Os nervos cranianos recebem denominações próprias, bem como também são numerados em seqüência crânio-caudal, o que é mostrado na tabela 3, juntamente com suas respectivas funções
TERMINAÇÕES NERVOSAS E GÂNGLIOS
As terminações nervosas existem na extremidade de fibras sensitivas e motoras. Nestas últimas, o exemplo mais típico é a placa motora. Nas primeiras, as terminações nervosas são estruturas especializadas para receber estímulos físicos ou químicos na superfície ou no interior do corpo. Assim, os cones e bastonetes da retina são estimulados somente pelos raios luminosos; os receptores do ouvido apenas por ondas sonoras; os gustativos por substâncias químicas capazes de determinar as sensações de doce, azedo, amargo, etc.; na pele e nas mucosas existem receptores especializados para os agentes causadores de calor, frio, pressão e tato, enquanto as sensações dolorosas são captadas por terminações nervosas livres, isto é, não há uma estrutura especializada para este tipo de estímulo.
Enquanto acúmulos de neurônios dentro do SNC são chamados de núcleos, fora do SNC são chamados de gânglios e se apresentam, em geral, como uma dilatação.
Do ponto de vista funcional pode-se dividir o sistema nervoso em SN somático e SN visceral. Este é o conjunto de estruturas nervosas, centrais e periféricas, que se ocupam do controle do meio interno, enquanto o SN somático, também formado por estruturas centrais e periféricas, têm por função a interação do organismo com o meio externo. Assim, de uma forma geral, pode-se afirmar que o SN somático cuida das atividades voluntárias enquanto o SN visceral o faz das involuntárias.
SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
Tanto o SN somático quanto o SN visceral possuem uma parte aferente e outra eferente. Denomina-se sistema nervoso autônomo (SNA) a parte eferente do SN visceral. O SNA por sua vez é dividido em duas partes: o sistema simpático e o sistema parassimpático. O simpático estimula as atividades que ocorrem em situações de emergência ou tensão, enquanto o parassimpático é mais ativo nas condições comuns da vida, estimulando atividades que restauram e conservam a energia corporal. O simpático tem origens nas regiões torácica e lombar da medula espinhal, enquanto o parassimpático as tem porções no tronco encefálico e nos segmentos sacrais da medula espinhal. Ambos possuem fibras pré-ganglionares que fazem conexões com gânglios (acúmulo de neurônios fora do SNC) e dos quais partem fibras pós-ganglionares que vão até os órgãos efetuadores; contudo as fibras pré-ganglionares simpáticas são curtas e as pós-ganglionares são longas, enquanto no parassimpático ocorre o contrário. Existem várias outras diferenças, como no tipo dos mediadores químicos, que fogem ao objetivo deste tópico.


SISTEMA RESPIRATÓRIO
O sistema respiratório contem os tubos que transportam o ar do meio externo aos pulmões e vice-versa e os alvéolos dos pulmões, onde ocorrem as trocas gasosas. Respiração é o processo pelo qual gases são trocados entre o meio ambiente e as células do corpo.
ÓRGÃOS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
O nariz, formado por ossos e cartilagens, apresenta duas aberturas, as narinas, que permitem a entrada do ar.
A cavidade nasal é o espaço situado posteriormente ao nariz e é dividida medianamente pelo septo nasal. As paredes laterais da cavidade nasal apresentam saliências, as conchas nasais, que aumentam a superfície de contato entre o ar e a mucosa da cavidade nasal. Esta mucosa filtra, aquece e umedifica o ar inspirado.
Os seios paranasais são cavidades existentes em alguns ossos do crânio e que se abrem na cavidade nasal. Seu revestimento é contínuo e idêntico ao da cavidade nasal. Além de reduzirem o peso do crânio, apresentam as mesmas funções da cavidade nasal.
A faringe apresenta três partes: naso, oro e laringofaringe. Destas três, a nasofaringe é, exclusivamente, via aérea. A laringofaringe é somente via digestiva e a oro faringe é um caminho comum ao ar e aos alimentos. Da orofaringe o ar inspirado vai para a laringe.
A laringe, atua como passagem de ar e ajuda a evitar, através do reflexo da tosse, que corpos estranhos penetrem na traquéia. Além disto ela contem as pregas vocais (errônea e popularmente chamadas de cordas vocais), saliências músculo-ligamentares em sua luz, que produzem os sons básicos da fala, por vibrarem com a passagem do ar durante a expiração. A movimentação das pregas vocais as leva a maior ou menor tensão ( o que regula se os sons serão mais ou menos agudos) e a uma maior ou menor aproximação mediana (o que produz sons mais ou menos intensos).
A traquéia além de servir de passagem de ar também ajuda a aquecê-lo e a umedificá-lo. Termina dividindo-se em brônquios principais direito e esquerdo.
Os brônquios se ramificam progressivamente, formando a árvore bronquial, que leva o ar da traquéia aos alvéolos pulmonares. Os pulmões são formados pelo conjunto dos alvéolos, da maior parte da árvore bronquial e de tecidos de sustentação.
INSPIRAÇÃO E EXPIRAÇÃO
A inspiração (entrada do ar) e a expiração (saída do ar) são acompanhadas de alterações dos diâmetros da caixa torácica.
Para que a inspiração ocorra é necessário que o tórax se expanda, reduzindo assim a pressão dentro dele, o que vai permitir a expansão dos tecidos pulmonares e a sucção do ar do meio ambiente. Esta expansão do tórax ocorre no diâmetro crânio-podálico as custas da contração e conseqüente abaixamento (em direção ao abdome) do músculo diafragma, constituindo o principal movimento inspiratório. Os diâmetros látero-lateral e ântero-posterior aumentam devido movimentos das costelas.
A expiração, ao contrário da inspiração, que sempre envolve gasto energético, quando feita de forma tranqüila, o que ocorre habitualmente, é passiva, sem gasto de energia, pois é feita às custas da energia potencial acumulada nas fibras elásticas pulmonares, distendidas durante a inspiração (como uma borracha estirada volta a seu tamanho original sem ser preciso empregar energia).


SISTEMA DIGESTIVO
Digestão é o processo de transformar os alimentos em formas possíveis de serem absorvidas pelo organismo. O sistema digestivo, que realiza esta tarefa, é composto pelo canal alimentar ou tubo digestivo e por várias glândulas anexas.
CANAL ALIMENTAR
A boca está adaptada a receber os alimentos e iniciar o processo de digestão. Também atua como órgão da fala e do prazer. As bochechas são seu limite lateral, enquanto que os lábios a delimitam superior e inferiormente. Os lábios são muito móveis e possuem grande variedade e quantidade de receptores sensitivos, utilizados para analisar as características do alimento.
A língua é, basicamente, uma estrutura muscular revestida por mucosa que atua misturando o alimento com a saliva e encaminhando-o à faringe. A superfície irregular da língua, além de facilitar a movimentação dos alimentos também apresenta receptores gustativos.
O palato forma o teto da cavidade bucal e apresenta duas partes, o palato duro, ósseo e o palato mole, muscular. Este se move e ajuda a ocluir a comunicação com a cavidade nasal durante a passagem dos alimentos em direção à faringe.
Os dentes (vinte, primariamente e trinta e dois, secundariamente) atuam cortando o alimento em pedaços pequenos, aumentando assim a área exposta às ações digestivas.
A faringe e esôfago atuam, somente, como tubos condutores, levando o alimento da boca até ao estômago. A faringe é dividida em nasofaringe, orofaringe e laringofaringe. Destas três, a nasofaringe é, exclusivamente, via aérea. A laringofaringe é somente via digestiva e a oro faringe é um caminho comum ao ar e aos alimentos. A deglutição dos alimentos se inicia com eles sendo misturados com a saliva, na boca, e empurrados para a orofaringe. A seguir, reflexos involuntários encaminham o alimento até ao esôfago, do qual é encaminhado ao estômago.
O estômago recebe os alimentos, mistura-os com o suco gástrico, absorve-os (limitadamente) e os encaminha ao intestino delgado.
O intestino delgado, composto de três partes (duodeno, jejuno e ílio) mede, no vivo, cerca de 3 a 4 metros de comprimento. Após a morte, pela perda do tônus muscular, pode atingir até 7 metros. Ele recebe o bolo alimentar do estômago, mistura-o com secreções provenientes do pâncreas, da vesícula biliar e dele mesmo e completa o processo de digestão, absorvendo seus produtos e encaminhando seus resíduos ao intestino grosso.
O intestino grosso, formado pelo ceco, pelos colos ascendente, transverso, descendente e sigmóide, pelo reto e pelo canal anal, recebe os resíduos da digestão vindos do intestino delgado, reabsorve a água e os eletrólitos neles contidos e forma e estoca as fezes. Estas consistem de material não digerido, água, eletrólitos, secreções mucosas e bactérias.
GLÂNDULAS ANEXAS
As glândulas salivares secretam a saliva, a qual umedece os alimentos, facilita a mastigação, possibilita a gustação, inicia a digestão e ajuda a limpar a língua. Existem três pares de glândulas salivares maiores (parótida, submandibular e sublingual) e um número variável de glândulas salivares menores disseminadas pela cavidade oral.
O pâncreas, estreitamente relacionado com o duodeno, produz o suco pancreático, Além disto, tem ações como glândula endócrina, produzindo dois hormônios, a insulina e o glucagon, que atuam no metabolismo dos açucares.
O fígado é a maior glândula do corpo humano. Além de produzir diversas substâncias fundamentais para a vida, ele atua na digestão através da produção da bile, a qual é armazenada, concentrada e excretada pela vesícula biliar.

SISTEMA URINÁRIO
O sistema urinário é constituído pelos rins, que removem substâncias do sangue, formam a urina e auxiliam a regulação de diversos processos corporais; pelos ureteres, estruturas tubulares que transportam a urina dos rins até a bexiga. Esta atua como reservatório de urina. Quando cheia, esvazia-se para o exterior através de um tubo, a uretra.
Os rins são órgãos pares, situados um de cada lado da coluna vertebral, na parte mais superior da parede posterior do abdome. Eles atuam removendo resíduos metabólicos do sangue, bem como regulando o volume e a composição dos líquidos corporais.
A unidade funcional do rim é o nefron (em cada rim existem cerca de um milhão), de dimensões microscópicas e composto pelo corpúsculo renal (formado pelo glomérulo e pela cápsula do glomérulo) e pelos túbulos renais.
O glomérulo renal é formado por um aglomerado de capilares, através dos quais ocorre a filtração do sangue. Este filtrado é recolhido pelos túbulos renais e, a nível destes, ocorre a reabsorção de algumas substâncias, bem como a eliminação de outras. O que fica é a urina. A última parte dos túbulos é o chamado ducto coletor. Estes progressivamente vão confluindo entre si até desaguarem na pelve renal, que se continua no ureter.
Os capilares que formam os glomérulos renais tem uma característica própria: eles se interpõem entre duas artérias e não, como é comum, entre uma artéria e uma veia. Isto ocorre, porque o sangue após ser filtrado vai nutrir os tecidos renais, sendo necessário para tal a disposição habitual. Em resumo, no rim as coisas acontecem assim: artéria capilares glomerulares artéria capilares comuns veia.

Um comentário:

THIAGO FÊNIX disse...

sou estudante de enfermagem , e tambem me foi muito útil este material , obrigado !