quarta-feira, 25 de novembro de 2009

DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DO ADOLESCENTE


1 Adolescência e sociedade

O termo adolescente tem sido utilizado há muito tempo. Nos dias atuais este termo não causa espanto, mas nem sempre foi assim. Nem sempre a adolescência foi uma fase supostamente conhecida, estudada e valorizada como foi no ultimo século.
Na Roma antiga, não tinha uma separação muito obvia entre a idade infantil e a idade adulta. A criança quando nascia tinha de ser aceita pelo seu pai, e após isso era entregue para uma nutriz para que ela dessa educação necessária e adequada para criança. O pai era quem escolhia a hora e o momento exato para a criança abandonar as vestes infantis e vestir as vestes de homem do exército, isso acontecia por volta dos seus 17 anos.
Na Idade Média também não se viu nenhum período de transição entre a infância e a idade adulta, o jovem era assim chamado quando passava por uma cerimônia denominada “barbatoria”, momento em que o pai ajudava o seu filho a se barbear pela primeira vez, assim o pelo era prova de que a criança tinha se tornado um homem, então as qualidades agressivas deveriam ser evidenciadas, ou seja, os treinamentos para este homem se tornar um bom guerreiro iniciava naquele momento. Assim na Idade Média a adolescência era muitas vezes confundida com a infância.
Só a partir do século XX que passou a haver interesse sobre o que o adolescente faz, pensa e sente. Definiu-se claramente o comportamento e as mudanças psíquicas para que tivéssemos idéia do adolescente atual.
Segundo Erikson (1987)
À medida que os progressos tecnológicos ampliam cada vez mais o intervalo de tempo entre o começo da vida escolar e o acesso final do jovem ao trabalho especializado, a fase da adolescência torna-se um período ainda mais acentuado e consciente; e como aconteceu em algumas outras culturas, em certos períodos, passou a ser quase um modo de vida entre a infância e a idade adulta. (p. 128)
Nos últimos anos de escolaridade, os jovens da sociedade capitalistas em que vivemos, além de apresentarem mudanças bruscas em sua fisiologia e maturação genital, lidam com as incertezas dos papéis adultos a sua frente.
Parecem muito preocupados com as tentativas mais ou menos excêntricas de estabelecimento de uma subcultura adolescente e com o que parece ser mais uma final do que uma transitória ou, de fato, inicial formação da identidade. Esses adolescentes estão sempre preocupados com o que os outros podem achar deles, em comparação com que eles próprios julgam ser, e com a questão de como associar os conhecimentos e comportamentos anteriores aos modelos idéias atuais. Em busca de um novo sentido de continuidade e uniformidade, que deve incluir agora a maturidade sexual, alguns adolescentes que não vivenciaram as crises anteriores adequadamente, enfrentam novamente essas crises antes de determinar a sua identidade final.
O meio infantil é substituído por uma nova moratória ditada pela sociedade.
O individuo quando criança enfrenta crises de identidade baseada na confiança em si e nos outros, não seria diferente na adolescência. O adolescente procura pessoas e ideais em que realmente possa confiar, entretanto ele exige que não seja excessivamente confiante, ou seja, ele expressará a sua necessidade de confiança numa desconfiança.
O desejo de fazer algo funcionar, herdado da fase escolar, fará com o adolescente não escolha uma profissão apenas pela remuneração, mas também pelo prazer em exercê-la.
Assim, em qualquer período dado da história, o tempo mais afirmativamente excitante será desfrutado por aquela parte da juventude que se encontrar na onda de um processo tecnológico, econômico ou ideológico aparentemente promissor de tudo o que a vitalidade juvenil poderia desejar.
A adolescência é menos “tempestuosa” na juventude que identifica-se com os novos papeis de competência e invenção e que aceita uma perspectiva ideológica mais implícita. As sociedades com grande potencial ideológico e com “modos de vida” que valham a pena ser vividos incentivam o adolescente a buscar sua ideologia e assumir os seus novos papéis. Enquanto que nas sociedades que barram a possibilidade dos adolescentes desenvolverem suas formas de expressão, ele responderá a esta sociedade de forma selvagem.
Segundo Erikson (1987)
Na selva social da existência humana, não existe sentimento vivencial sem um sentimento de identidade.
A democracia deve apresentar aos seus adolescentes ideais que possam ser compartilhados por jovens de muitos antecedentes e formações, e que enfatizem autonomia na forma de independência e a iniciativa na forma de trabalho construtivo. (p. 134)

1.2.1 Síndrome da ambivalência dual, segundo Stone

O adolescente procura oportunidades de decisão, embora tenha medo de ser exposto ao ridículo ou à dúvida sobre os seus próprios atos. Além disso, ele herdou de sua infância essencialmente lúdica, uma imaginação ilimitada, com isto ele imagina e fantasia seu futuro, como conseqüência confiará mais em pessoas maduras que aspiram as suas imaginações. Pelo mesmo motivo, o adolescente, responde de forma defensiva a todas as limitações contrárias a imagem que fez de si próprio.
Existe ainda no adolescente um impulso que o leva a se afastar da família e procurar mais a companhia de seus amigos; pelos motivos de que seus pais "não o entendem". Nesta altura da vida os conflitos que o adolescente vive têm ampla ressonância sobre os pais, que por sua vez podem determinar as oscilações que o adolescente tem em sua definição pessoal.; isto se torna justificável a partir do momento em que os conflitos do adolescente reacendem antigos conflitos, mal resolvidos, dos pais. Chamada por Stone de síndrome da ambivalência dual, a crise adolescente se caracteriza como um período de atualização da crises dos pais.


1.2.2 Adolescência como crise

Os estudos sobre adolescência que tentam caracterizá-la de modo mais universal têm um grande exemplo na psicanálise, buscando uma caracterização da adolescência como crise e busca por identidade, conforme apresenta Erik Erikson (1976). Segundo esse autor, há algumas características próprias do período da adolescência: preocupação com o que se parece aos olhos dos outros; preocupação com papéis sociais; mudança do meio familiar e escolar, para o meio mais amplo da sociedade; busca por ideais; mudança de referência dos adultos para os pares; busca por se firmar de modo grandioso em relação à profissão; superidentificação com heróis – perda temporária da individualidade; aderência a grupo e etnocentrismo.
Só com a adolescência o indivíduo desenvolve os requisitos preliminares de crescimento fisiológico, amadurecimento mental e responsabilidade social para experimentar e atravessar a crise da identidade. (ERIKSON, 1987)
Erik Erikson apresenta o crescimento humano do ponto de vista dos conflitos, internos e externos, que a personalidade vital suporta, ressurgindo de cada crise com um sentimento maior de unidade interior, um aumento de bom juízo e com incremento na capacidade de “agir bem”, de acordo com os seus próprios padrões e aqueles padrões adotados pelas pessoas que são significativas para ela.
Por um lado a personalidade se desenvolve de acordo com uma escala predeterminada na prontidão do organismo humano para ser impelido na direção de um circulo cada vez mais amplo de indivíduos e instituições significantes, ao mesmo tempo que está consciente da existência deste circulo e pronto para a interação com ele.

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