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Técnico de basquete: profissão madrasta
Por: Prof. Ms. José Marinho M. Dias Neto
Por: Prof. Ms. José Marinho M. Dias Neto
O que leva uma
pessoa “normal” a ser um técnico de basquetebol? Eu sempre tento
achar respostas para este difícil questionamento. Mas reconheço
que não tenho tido muito sucesso. O que leva uma pessoa a passar
inúmeros fins de semana longe de sua família, estar numa profissão
sem um plano de carreira, perder noites e mais noites de sono
porque perdeu um jogo que não podia perder ou porque precisa achar
um bom plano de jogo para o dia seguinte, se preocupar com a vida
pessoal de seus atletas como se fossem seus filhos, ser um
profissional com múltiplas funções e receber seu minguado salário
com atraso, pertencer a um esporte extremamente mal administrado,
entre outros muitos fatores complicadores.
Qualquer um pode ser
técnico de basquete. Basta desejar. Não existe nenhum
pré-requisito. Quantos não são os casos de pessoas que nunca
dirigiram uma equipe e assumem um cargo na categoria adulta. Não
importa se este indivíduo foi ex-atleta ou não. Ser jogador é algo
completamente diferente de ser técnico. É como achar que um aluno
brilhante será um professor de igual desenvoltura. Se
considerarmos que a ação de um técnico é um processo educacional
(e isto é uma lídima verdade), não há como conceber um indivíduo
nesta função sem conhecimentos avançados de pedagogia. Entende-se
pedagogia como a reunião de saberes para educar. Portanto, por
mais que alguém saiba o que fazer, terá também que dominar os
caminhos de como ensinar. Caminhos tortuosos, por sinal... Sem
muito estudo e experiência na função, não há como obter sucesso no
ponto mais alto deste duro ofício.
Além disto tudo, o
treinador deve ter uma formação multidisciplinar. Ele precisa ter
noções de todas disciplinas que envolvem o esporte (fisiologia,
psicologia, administração, sociologia, etc...). O técnico deve ser
um administrador de alto nível, tendo que lidar com todas as
variáveis de jogo, as situações extraquadra e as nuances do grupo.
Coisa de “super-homem”...
Mas como exigir de
um profissional uma formação integral e bem estruturada numa
carreira onde não existe hierarquia ou meritocracia. Quantos não
foram os técnicos que trilharam caminhos de muito sucesso e
realizações (títulos, formação, estruturas, etc) em categorias de
base e jamais tiveram chance no adulto. Enquanto outros assumem
grandes equipes sob a simples razão de terem encerrado seu ciclo
como jogadores. Tudo muito injusto... O que dizer de uma estrutura
onde todos são profissionais (técnico, auxiliar, médico,
fisioterapeuta, roupeiro, etc), mas quem toma as decisões, os
dirigentes, são amadores? Que critérios ele terá para fundamentar
sua escolha? Muito provavelmente o marketing de escolher um
ex-jogador famoso ou, simplesmente, optar por um amigo. Qual a
formação deste profissional? Qual sua experiência na função?
Quantos cursos ele já fez? Quantos jogadores formou? Isto é tudo
bobagem!
No meio deste mundo
louco do basquetebol surgem os mais variados tipos de técnicos. A
maioria deles despreparados e caricatos. Refletindo sobre nossa
realidade, procurei caracterizar os tipos mais comuns:
O técnico
torcedor: incapaz de dar uma instrução consistente, ele é o
rei do “vamos lá” e da filosofia de botequim para motivar seus
jogadores.
O técnico
desconfiado: jamais trabalha com auxiliares. Preocupa-se o
tempo todo em quem pode “derrubá-lo” e se esquece de preparar seu
time.
O técnico teórico:
sabe o que tem que fazer, ministra treinos maravilhosos, mas se
perde totalmente nas situações de jogo.
O técnico
explicadinho: a culpa é sempre da arbitragem ou do erro dos
jogadores ou da falta de estrutura...
O técnico
preguiçoso: acha que treino técnico é para garotos. O rei dos
coletivos e da dupla de arremesso. Eu resolvo com minha
experiência...
O técnico
americanizado: ouviu falar de um esquema tático americano. O
adota sem levar em consideração as características dos jogadores
ou sua adequação a nossa realidade.
O técnico
presunçoso: ele acha que não há necessidade de estudar,
assistir jogos, participar de clinicas e congressos ou se
reciclar. Ele sabe “tudo” e acaba ficando ara trás, embora os
dirigentes insistam em não notar.
Deixo aos leitores
um espaço aberto para novas caricaturas.
Muitos alunos na
universidade sempre me questionam sobre a profissão de técnico.
Não há como negar que é sedutor. Estar na corda bamba entre a
vitória e a derrota aguça a emoção de qualquer um. É adrenalina
pura, principalmente se considerando que o técnico não é o ator
primário da ação. Sem um bom desempenho dos atletas, tudo vai por
terra. Por outro lado, existe o seu amor-próprio. Quem se dedica
integralmente a sua profissão espera por um mínimo de justiça e
reconhecimento. Não espere por isto no basquetebol...